sábado, 19 de novembro de 2011

Escrever para não praticar. Situações hipotéticas. (Ana Leme)

Folhas soltas de um diário.
Querido diário,
Hoje, dia 7/4/2007, a escola foi péssima - como nunca tinha sido. As provocações, os xingamentos e, ai, como posso dizer isto: espancamento... Não aguento mais isso. Por sofrer tais agressões, tive de ir ao psicólogo. O psicólogo bem que tenta, mas não consigo dizer o que sofro na escola para ele. Contar para meus pais? Nunca! Nem pensar. Por quê? Oras... eles iam querer conversar com os agressores e... pronto... minha vida iria piorar. Se é que isso é possível!
Pensei que hoje fosse ser um dia tranquilo, porque o líder do grupo preconceituoso faltou, não tinha sentido elas me xingarem, afinal, para elas, ser negra, significa inferior.
No recreio, a infeliz chegou, caraca! Não demorou e... comecei a sofrer bullying. Chamavam-me de macaca. Não dei atenção. Resolveram esquentar as ameaças, dizendo que me espancariam.
Não consegui mais me concentrar nas aulas. Bolinhas de papel eram jogadas em meu cabelo. De repente, vibrou meu celu. Era uma mensagem delas: "Me aguarde após a aula, vc vai ver do q sou capaz!"
Gelei de tanto medo. Será que eu devia enfrentá-la?
Acabada a aula, fui me refugiar na sala da diretora. Esperava que elas desistissem do plano. Eles resistiram. Ficaram de tocaia. Tentei me esgueirar pelos corredores. Elas me viram. Levaram-me ao banheiro.
-Macaca, você vai sofrer!
Meu Deus! Como escapar? Levei um soco. Meu nariz começou a sangrar. Depois mais e mais socos e pontapés.
Estou escrevendo em você, querido diário, aqui do hospital. Juntarei forças para mudar minha vida.

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